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O gás de folhelho: desafios e oportunidades para o Brasil

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O gás de folhelho, também conhecido como shale gas, tem emergido como uma das fontes de energia não convencionais mais promissoras do século XXI. Com o potencial de transformar o cenário energético global, esse recurso já revolucionou mercados como o dos Estados Unidos, onde a produção em larga escala reduziu os preços do gás natural e impulsionou a economia. 

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No Brasil, embora o potencial seja considerável, a exploração do gás de folhelho ainda não está estabelecida no país, enfrentando desafios técnicos, ambientais e regulatórios. Este texto traz uma síntese sobre as características deste recurso, as tecnologias envolvidas em sua extração, os desafios ambientais e o potencial brasileiro nesse mercado, considerando os tópicos abaixo:

  • O que é Gás de Folhelho? 
  • O Potencial do Gás de Folhelho no Mundo
  • O Brasil e o Gás de Folhelho
  • Desafios Ambientais e o Projeto Poço Transparente
  • O Papel dos Recursos Hídricos na Exploração de Gás Não Convencional
  • O Caso do Aquífero Guarani
  • Oportunidades para o Brasil 
  • Conclusão

O que é Gás de Folhelho? 

O gás de folhelho é um tipo de gás natural encontrado em rochas sedimentares de baixa permeabilidade, conhecidas como folhelhos. Essas rochas são ricas em matéria orgânica, mas a extração do gás é complexa devido à dificuldade de fluxo do gás para a superfície.

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Para viabilizar a produção, são necessárias técnicas avançadas, como o fraturamento hidráulico (fracking) e a perfuração horizontal.

  • Fraturamento hidráulico: Consiste na injeção de um fluido (água com aditivos químicos) sob alta pressão para fraturar a rocha e liberar o gás.
  • Perfuração horizontal: Permite que o poço atravesse uma extensão maior do reservatório, aumentando a área de contato e a produção.

Essas técnicas têm sido fundamentais para o sucesso da exploração de gás de folhelho em países como os Estados Unidos, onde a produção em larga escala já transformou o mercado energético.

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Fonte: ECODEBATE, 2013

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O Potencial do Gás de Folhelho no Mundo

Os Estados Unidos lideram a produção global de gás de folhelho, com destaque para a Formação Marcellus, na Bacia dos Apalaches. Em 2020, os EUA produziram cerca de 827 bilhões de metros cúbicos de gás de folhelho, representando uma parcela significativa do mercado global. 

Outros países, como Canadá, Argentina e China, também têm investido pesadamente na exploração desse recurso.

A Argentina, por exemplo, possui a província de Vaca Muerta, uma das maiores reservas de gás de folhelho do mundo. Em 2020, o país produziu 19 bilhões de metros cúbicos, mostrando o potencial dessa fonte de energia para impulsionar economias nacionais. 

O Brasil e o Gás de Folhelho

O Brasil possui um potencial significativo de gás de folhelho, especialmente nas bacias sedimentares do Parnaíba, Paraná, Solimões e Amazonas. 

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), o país ocupa o 10º lugar no ranking mundial de reservas de gás de folhelho, com estimativas de 6,9 trilhões de metros cúbicos de gás natural tecnicamente recuperável.

A falta de conhecimento detalhado sobre as formações geológicas e os desafios ambientais associados ao fraturamento hidráulico têm retardado o avanço desses projetos. 

Além disso, a exploração de fraturamento hidráulico no Brasil enfrenta resistência de grupos ambientalistas e comunidades locais, preocupados com os possíveis impactos ambientais.

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Desafios Ambientais e o Projeto Poço Transparente  

A exploração de gás de folhelho não está isenta de controvérsias. O fraturamento hidráulico, técnica essencial para a produção desse recurso, tem sido alvo de críticas devido aos riscos ambientais associados. Entre as principais preocupações estão:

  • Contaminação de aquíferos: O uso de produtos químicos no fluido de fraturamento pode contaminar os lençóis freáticos.
  • Uso intensivo de água: A exploração de um único poço pode consumir entre 15 e 20 milhões de litros de água.
  • Atividades sísmicas induzidas: O fraturamento hidráulico pode causar pequenos tremores de terra.

No Brasil, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estabeleceu diretrizes rigorosas para a exploração de reservatórios não convencionais, incluindo a obrigatoriedade de revestimento integral dos poços e monitoramento contínuo da propagação de fraturas. 

Além disso, o Projeto Poço Transparente, uma iniciativa do governo brasileiro, visa promover a transparência e o monitoramento das operações de fraturamento hidráulico, permitindo que a sociedade acompanhe de perto os impactos ambientais e operacionais.

Os Recursos Hídricos e a Exploração de Gás Não Convencional

O fraturamento hidráulico demanda grandes volumes de água, o que gera preocupações sobre o impacto nos recursos hídricos locais, especialmente em regiões onde a água já é um recurso escasso. 

No Brasil, a exploração de gás de folhelho pode afetar aquíferos importantes, como o Aquífero Guarani, que abastece milhões de pessoas no Sul e Sudeste do país. A gestão dos recursos hídricos no contexto da exploração de gás não convencional é um desafio complexo que exige a colaboração entre governos, empresas e comunidades locais. 

A Agência Nacional de Águas (ANA) e o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) desempenham um papel crucial na regulação do uso da água, mas ainda há lacunas na regulamentação específica para a exploração de gás de folhelho.

O Caso do Aquífero Guarani

O Aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo, é um dos principais pontos de preocupação no contexto da exploração de gás de folhelho no Brasil. 

Em 2019, o estado do Paraná aprovou a Lei 19.878/19, que proíbe o uso do fraturamento hidráulico em seu território, tornando-se o primeiro estado brasileiro a banir a prática. 

Essa medida reflete a preocupação com a proteção do Aquífero Guarani e a necessidade de garantir a segurança hídrica para as gerações futuras.

Oportunidades para o Brasil

Apesar dos desafios, a exploração de gás de folhelho pode trazer benefícios significativos para o Brasil. A redução da dependência de importações de gás natural, a geração de empregos e o desenvolvimento regional são alguns dos impactos positivos. 

Além disso, o gás de folhelho pode contribuir para a diversificação da matriz energética brasileira, reduzindo a dependência de fontes mais poluentes, como o carvão e o petróleo.

Para que esse potencial seja realizado, é essencial investir em pesquisa e desenvolvimento, além de promover o diálogo entre governo, indústria e sociedade civil. A adoção de práticas sustentáveis, como o reuso de água e a utilização de tecnologias menos impactantes, pode minimizar os riscos ambientais e garantir que a exploração de gás de folhelho seja feita de forma responsável.

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Fonte: CNI, 2017

Conclusão

O gás de folhelho representa uma oportunidade única para o Brasil consolidar-se como um player relevante no mercado global de energia. No entanto, a exploração desse recurso exige um equilíbrio delicado entre crescimento econômico e sustentabilidade ambiental. 

Com investimentos em tecnologia, regulamentação aprimorada e políticas públicas adequadas, o Brasil pode se tornar um exemplo global na exploração responsável de gás de folhelho, alinhando desenvolvimento econômico à preservação dos recursos naturais.

A revolução do gás de folhelho está apenas começando, e o Brasil tem tudo para ser um protagonista nesse cenário. O desafio agora é garantir que essa jornada seja feita com responsabilidade, transparência e compromisso com o futuro do planeta.

Fontes

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Gestão das Águas. Disponível em: https://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/gestao-das-aguas. Acesso em: 18 mar. 25.

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS (ANP). CONSULTA E AUDIÊNCIA PÚBLICAS Nº 30/2013, D.O.U. de 17/10/2013. 

Resolução que estabelece os critérios para a perfuração de poços seguida do emprego da 

técnica de Fraturamento Hidráulico em Reservatório Não Convencional (2013). Disponível 

em: http://www.anp.gov.br/images/Consultas_publicas/Concluidas/2013/n30/Apresentacao_Audiencia_Publica.pdf. Acesso em: 03 jul. 2019.

ANP. O Potencial de Gás Natural e Hidrogênio Natural no Brasil. Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-de-conteudo/apresentacoes-palestras/2023/arquivos/2023-09-15-marina-abelha-potencial-gas-h2.pdf. Acesso em: 18 mar. 25.

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BRASIL. Lei nº 9.433/97. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em: Acesso em: 18 mar. 25.

BRANCO, P. M. de. O Gás do Xisto. CPRM, Brasília, jul. 2013. Disponível em: http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoi=2618&sid=129. Acesso em: 08 jul. 2013.

CRUZ, C. E. S. Recursos não convencionais de petróleo (óleo e gás) e seu potencial nas 

bacias sedimentares brasileiras (2018). Instituto de Geociências/Universidade de Brasília. 

Disponível em: https://fgvenergia.fgv.br/sites/fgvenergia.fgv.br/files/arquivos/5-_carlos_souza_cruz.pdf. Acesso em: 03 jul. 2019.

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Pamela Vilela

Pamela Cardoso Vilela é Técnica em Geomática, Bacharel em Geologia, Especialista em Engenharia de Petróleo e Gás Natural, Mestre em Ciências (Geologia), e idealizadora do Projeto Geo Class.

Desde sempre curiosa sobre o funcionamento do ambiente que nos cerca. Há mais de 10 anos se dedica a aprender sobre os processos geológicos, sua importância e impacto na sociedade, em especial no setor de energia. De suas experiências em monitorias, estágio docência em trabalhos de campo e orientação de trabalhos acadêmicos, adquiriu o desejo de tornar acessível e interessante o conhecimento geocientífico para o maior número de pessoas.

Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/576934557422063 

LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/pamelavilela/  

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